segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Dissoluções

Abriu a porta e deparou-se com a mulher que a esperava. Uma senhora negra, aparentando cerca de cinqüenta anos, talvez menos. Nitidamente maltratada pela vida.
A mulher sorriu um sorriso incompleto e estendeu-lhe a mão.
- Boa tarde, doutora. Disse a negra risonha.
Sorriu também, retribuindo o cumprimento. Sentiu vontade de rir, mas conteve-se. Em seus ouvidos ainda ecoava o tratamento de doutora. Por um momento pensou nas relações sociais, na luta de classes, na exploração dos pobres...Desfez os devaneios e concentrou-se na mulher que sentara a sua frente.
- Em que posso ajudá-la dona...
- Maria Aparecida. Apressou-se em completar sua interlocutora.
- Então dona Maria Aparecida, em que eu posso ajudá-la?
-Sabe o que é doutora...eu preciso fazer um despejo.
Desapontada, ela já se preparava para informar àquela senhora que não poderia ajudá-la. Afinal, acabara de iniciar o quarto ano do curso de Direito e só tinha autorização para tratar de casos de família. A mulher teria que voltar na quarta-feira para ser atendida por um aluno em estágio mais avançado, que atendesse causas cíveis.
Mas, antes que pudesse falar qualquer coisa, Maria Aparecida passou a contar sua história. Pretendia despejar o safado do ex-marido, que mais tarde constatou-se ser na verdade seu ex-companheiro.
- Não casamos no papel não, doutora. Só juntamos os trapos.
O homem havia retirado a porta da suíte em que dormia com a dona Maria Aparecida, fechou a abertura com tijolos e abriu uma porta para a rua. Agora entrava e saía sem dar satisfação a ninguém e continuava a usar a água e a luz que a pobre coitada pagava. Dona Maria contou que, vez por outra, ainda aparecia bêbado acompanhado de alguma quenga.
Ela orientou dona Maria a procurar testemunhas, tirar fotos da casa e trazer os documentos necessários na semana seguinte. Com satisfação, entregou à pobre senhora a procuração e a declaração de pobreza.
- É para não precisar pagar as custas do processo, dona Maria.
E a mulher sorriu seu sorriso imperfeito concordando. E saiu despedindo-se, contente.
– Deus lhe pague, doutora!
Ela fechou os olhos. Rapidamente a imagem se desfez. Sua primeira cliente no escritório modelo. Sua primeira ação de dissolução de união estável! Já fazia cinco anos.
Agora, sentada em frente ao microcomputador, ela redigia sua própria ação de dissolução de união estável e a cada palavra colocava um ponto final naquela etapa de sua própria vida. Pensou em seu relacionamento desgastado e conturbado. Pensou em dona Maria Aparecida. Pensou nas tantas outras mulheres que haviam passado pelo seu escritório naqueles anos. E sorriu, satisfeita com sua escolha profissional, segundos antes que a bala disparada pela arma de seu ex-companheiro a ferisse mortalmente.

Um passo de cada vez...

As vezes temos o péssimo hábito de atropelar as coisas. Cada um e cada coisa tem o seu próprio tempo. Querer apressar o relógio, tentar apertar o passo quando a caminhada é árdua... talvez seja apenas desperdício de energia. Somos o exato resultado dos passos anteriores. Melhor pisar com cuidado...o amanhã será o resultado do próximo passo.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

11 de agosto - Dia do Advogado


SERÁ QUE HÁ ALGO A COMEMORAR?