terça-feira, 23 de junho de 2009

O amor em tempos de Lei Maria da Penha


O amor chegou e
quando dei por mim, já era tarde:
Apropriou-se de minha existência.
E após invadir cômodo a cômodo,
O amor usucapiu meu coração.

Um dia ao chegar em casa
Percebi que o amor
Estava sentado no sofá,
Taça de vinho na mão
Sorriso envolvente nos lábios
Exibia satisfeito a sentença transitada em julgado
E o mandado de averbação
Que o tornava proprietário de meu coração.

Decidi não interpor recurso
Não queria que o amor fosse embora.
Mas o tempo passou...
E certa vez, infeliz e amarga,
Decidi expropriá-lo.

Determinada a expulsar o amor de minha vida
Ajuizei ação rescisória,
Mas o amor resistiu
E com arroubos de violência e bravura
Insistia em permanecer.

Por fim, o amor acabou em gritos,
polícia, coisas quebradas, casa revirada,
Reclamação dos vizinhos
E após medidas cautelares e inquéritos
O amor foi condenado a viver afastado de mim.

Arrependida, passei a visitá-lo no presídio da solidão.
Mas o amor, magoado, recusava-se a me ver
Por fim o tempo, que tudo suaviza
Encarregou-se de convencer o amor
Que novamente tornou-se cálido
Mas agora na justa medida
Não mais queimava, mas também não era morno

E novamente o tempo
(grande vilão da história)
Amadureceu o amor em barril de carvalho
Tornou-o levemente encorpado, com notas frutadas
feito brisa em dia quente de verão
O amor agora era calmo, companheiro
E novamente me deixava extasiada a sorrir satisfeita

Após revisão criminal,
(ouvido o Ministério Público)
O amor enfim liberto
Conseguiu reabilitar-se
E sem culpas, sem medos
Excluído do rol dos culpados
Tornou-se um amor para sempre.

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